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Ilustração: Wallcoo |
Naquela noite ela foi dormir com sede de felicidade. De manhã bem cedinho acordou ao som de Alegria, alegria no despertador. Carregada de fé, respirou fundo, levantou com o pé direito, escovou os dentes e cantarolou alguma coisa no banho. Tomou um copo de água gelada, e só – não costumava sentir fome pela manhã.
Subiu numa cadeira de madeira e apanhou em cima do guarda-roupa uma mala de couro, por sinal, bastante empoeirada. Sacudiu a poeira da mala e da alma e foi catando umas coisinhas pelo quarto: aquela coragem que há muito estava guardada na gaveta, uns vestidos, um casaco, o protetor solar, aquela blusa verde-esperança, uns sonhos de dentro do travesseiro, uma sandália confortável, o livro preferido, a caneta azul sem o bocal e o caderninho rosa.
Saiu de casa. No caminho observou as nuvens e como elas se mexiam devagar formando desenhos diversos, era o jeito lindo de o céu lhe dizer bom dia. Retribuiu com sorriso largo e pensou: - Preciso mesmo movimentar a minha vida e fazer desenhos. Lembrou da canção: “Caminhando contra o vento sem lenço e sem documento, no sol de quase dezembro, eu vou...” E ela foi, com passos largos e seguros rumo à estação, onde comprou a passagem para a Felicidade.
Havia chegado 50 minutos antes do horário previsto de saída, encostou a mala num canto e sentou-se. Deixaria pra trás tudo o que passou, o que sorriu, o que chorou, o que construiu e o que o tempo encaixotou. Ouviu o tic-tac do trem que só não soava mais alto do que o pulsar do seu coração. Embarcou... A viagem seria longa e suas expectativas tinham o comprimento daqueles trilhos de trem.
Sabia que ele estaria a sua espera na estação de lá, sentado de frente para o mundo, com um raminho de flores em uma das mãos (a que não estivesse segurando o coração dela). Sabia que assim seria... Desse jeito a vida lhe sorria e ela sorria de volta. Seguia viagem com “(...) os olhos cheio de cores, o peito cheio de amores (...)”, como dizia a canção. Tirou da mala o caderninho e a caneta azul, afinal, teria tempo de sobra para escrever as mais lindas poesias para ele até o desembarque do trem na estação de lá.
Lá descerá do trem e embarcará para uma nova e linda viagem a caminho do amor, ao lado dele e segurando firme a mão dele, aquela mão que lhe entregar o buquê, aquela que vai estar com cheirinho doce de flor.
(Karla Thayse Mendes – 08/12/11)
Trechos em itálico - canção Alegria, alegria de Caetano Veloso.
“Estou na estação do amor,
trago flores nas mãos,
estou sentado de frente para o mundo,
esperando o trem da felicidade chegar –
e me trazer você!”